Veja 4 tendências de investimentos para 2022

12 de abril de 2022 15:51

A inflação pressionada será o fio condutor da economia em 2022. Com preços altos, bancos centrais do mundo todo devem apertar os juros e os governos devem fechar ainda mais a torneira dos estímulos.

 

Com menos dinheiro fluindo, em um ambiente de preços mais altos, as economias tendem a perder força.

 

Nos investimentos, esse cenário se traduz em empresas crescendo menos, o que é ruim para ações, e renda fixa pagando mais.

 

Somam-se aos juros altos e estímulos menores as novas cepas da Covid-19, a sanfona do abre e fecha e a crise de energia global. Mais incertezas que sinalizam perda de ímpeto das economias.

 

Depois de uma retomada em 2021, ajudada pela base fraca de comparação com o 2020 pandêmico, 2022 deve ser de crescimento menor. O Fundo Monetário Internacional (FMI) espera avanço de 5,9% do PIB global este ano e de 4,9% no ano que vem.

 

Outro movimento que deve mexer com as placas tectônicas globais é a China. 2022 é o ano em que Xi Jinping deve ser reconduzido ao terceiro mandato e também é o ano das Olimpíadas de Inverno.

 

Por ambos os motivos, os chineses devem tentar aquecer a temperatura da economia, o que pode impulsionar as commodities.

 

Já o Brasil, como país emergente, deve ter juros e inflação ainda mais altos por aqui e crescimento mais baixo, um claro cenário de estagflação: economia parada, com inflação alta. Mas o país terá um ingrediente a mais em relação à receita externa: as eleições presidenciais e a volatilidade inerente a um pleito polarizado.

 

Diante desse pano de fundo político-econômico, analistas sintetizam suas perspectivas para 2022 dizendo com convicção: será mais um ano em que o mercado lá fora vai subir mais do que o mercado doméstico; a renda fixa deve ser melhor que a Bolsa; commodities (ações de valor) devem subir mais que techs (ações de crescimento); e vale a pena manter a China no radar.

 

“Vai ser um ano mais desafiador para a Bolsa. Os juros começam a ser um vento contrário e o patamar do qual estamos partindo com as ações já está bem esticado”, avalia Marcos Mollica, gestor do fundo Opportunity Total.

 

O que dizem as grande gestoras globais

 

Uma boa estratégia para traçar perspectivas é observar o que dizem as grandes gestoras globais, as donas do dinheiro. A maior delas é a BlackRock, que tem US$ 9 trilhões de dólares sob gestão — se fosse o PIB de um país, seria a terceira maior economia do mundo, só atrás de Estados Unidos e China.

 

No relatório “Prosperando em um novo regime de mercado”, a BlackRock resume suas perspectivas para 2022 da seguinte forma: “Preferimos as ações no cenário inflacionário de forte retomada. Também preferimos as ações de mercados desenvolvidos às de mercados emergentes, conforme reduzimos ligeiramente a exposição ao risco em meio aos riscos crescentes para o nosso cenário-base. Estamos com baixa exposição a títulos públicos de mercados desenvolvidos – vemos os rendimentos se elevando gradualmente, mas permanecendo historicamente baixos. Preferimos títulos indexados à inflação, como diversificação de portfólio.”

 

Veja a seguir um resumo de quatro tendências de investimento citadas à CNN pelos especialistas para 2022 e como surfar em cada uma delas.

 

1) Renda fixa: “Não tão sexy”, mas rentável

Com a Bolsa em baixa e os juros em alta, a pedida mais óbvia para o investidor brasileiro deve ser a renda fixa, grupo que inclui títulos do Tesouro Direto e títulos de bancos, como CDB, LCI e LCA. São opções de investimento que acompanham a alta dos juros.

 

Com a renda fixa pagando taxas acima de dois dígitos, especialistas não veem motivos para correr o risco da Bolsa, que deve fechar 2021 com queda de cerca de 10% e seguir numa toada ruim em 2022.

 

“Quando se olha a Bolsa em dólar, ela fica barata e isso gera uma atratividade de capital estrangeiro, que pode dar um certo impulso ao Ibovespa no início do ano, ainda que limitado.

 

Mas conforme a eleição vai se aproximando, a bolsa deve ficar totalmente instável, porque vai ser uma eleição muito truculenta e polarizada”, afirma o consultor financeiro Paulo Bittencourt, que tem mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais.

 

Em contrapartida, as taxas na renda fixa devem se manter atrativas. “Os juros devem seguir altos por um período razoável, ainda não há espaço para cortes. A renda fixa pode não ser tão ‘sexy’ para os investidores pessoas físicas, mas eles deveriam olhar para a renda fixa no atual patamar, com títulos pegando 11%, 12% ao ano”, diz Mollica.

 

Entre os títulos mais recomendados, estão os atrelados à inflação, que pagam uma taxa de juros mais a variação do IPCA, como o Tesouro IPCA e títulos de crédito privado atrelados ao IPCA.

 

Mas esses títulos podem oscilar em momentos de mudanças na taxa Selic e gerar prejuízo para quem resgatá-los antes do vencimento.

 

Uma opção mais segura para quem quer aproveitar os juros altos, com baixo risco, são os títulos Tesouro Selic e CDBs, LCIs e LCAs pós-fixados que não geram prejuízos se resgatados antes do prazo.

 

2) Exterior é logo aqui

Para o investidor que topa algum risco, especialistas recomendam incluir na carteira ativos de renda variável, como ações, mas de preferência de empresas estrangeiras.

 

Hoje, é possível investir nesses ativos pela bolsa brasileira de duas maneiras simples: comprando um ETF, uma cota de um fundo, negociada em bolsa, que investe nos ativos de um certo índice acionário, do Brasil ou de outros países; ou BDRs, que são recibos de ações negociadas em bolsas lá fora.

 

Mas em qual país apostar? Com bolsas americanas subindo mais de 20% em 2021 e perspectiva de crescimento global mais modesto em 2022, analistas acreditam que a Bolsa americana ainda pode subir, mas bem menos do que em 2021.

 

E veem oportunidades na China, que ficou para trás com a crise da Evergrande e a desaceleração da economia em 2021.

 

No relatório sobre perspectivas para 2022, a BlackRock afirma que os riscos regulatórios no mercado chinês devem permanecer, mas não aumentar porque o governo não vai querer esfriar mais a economia.

 

Também dizem esperar que Pequim afrouxe gradualmente as políticas monetária e fiscal — que permanecem muito duras em relação aos países desenvolvidos — para impulsionar o crescimento.

 

“Acreditamos que a baixa exposição de investidores globais aos ativos chineses destoa do peso crescente da economia chinesa no mundo”, diz o relatório.

 

Roberto Attuch Jr, CEO da Ohm Research, também acredita numa reversão de tendência na China, com a recondução de Xi Jinping ao poder e as Olimpíadas de inverno, que devem levar o governo chinês a estimular mais a economia.

 

“De alguma forma, os chineses conseguiram desinflar a bolha imobiliária e controlar a situação da Evergrande. E os ativos chineses estão em níveis historicamente baixos frente aos Estados Unidos.”

 

Mollica acrescenta que as recentes notícias sobre novos estímulos na China têm trazido uma reação dos ativos asiáticos.

 

“Foi isso o que impulsionou o minério das últimas semanas e eu vejo espaço para mais apreciação”, diz o gestor.

 

Já Paulo Bittencourt tem uma visão cautelosa sobre a China. Ele prefere investir nos Estados Unidos, via ETFs que permitam fazer uma alocação mais temática. “Dos ETFs aqui na nossa B3 eu recomendo: IVVB11, BIBB39, BAER39, ALUG11, MATB11”, diz.

 

Traduzindo a sopa de letrinhas: o IVVB11 replica o S&P 500, índice que reúne as 500 principais ações americanas; o BIBB39 segue o índice Nasdaq Biotecnology, composto por ações americanas de biotecnologia e farmacêuticas; o ALUG11 investe em empresas do mercado imobiliário americano; e o BAER39, replica o índice Dow Jones U.S. Select Aerospace & Defense, que aplica em ações ligadas ao mercado aeroespacial.

 

3) Rotação de crescimento para valor

As ações, de forma geral, perdem atratividade em um cenário de alta dos juros, que torna a renda fixa mais atraente. Mas as ações de tecnologia têm sido as mais afetadas porque são empresas com “duration longa”, ou seja, boa parte do fluxo de caixa delas está no longo prazo.

 

Portanto, ao calcular se essas ações valem a pena, analistas descontam a taxa de juros vigente e quanto maior a taxa, menos atrativas as techs ficam.

 

Além disso, com a China possivelmente reaquecendo os motores, o maior comprador de matérias-primas do mundo pode retornar ao mercado com mais força, impulsionando as commodities.

 

Por isso, o movimento de rotação do mercado pode se intensificar, com investidores migrando do grupo das chamadas ações de crescimento ou growth – empresas de tecnologia e startups, por exemplo, que crescem rápido – para o grupo de ações de valor ou value – também chamadas de ações cíclicas, como ações de bancos, commodities que acompanham os ciclos econômicos.

 

“Setores cíclicos, Europa e China são nossas principais apostas. Nos Estados Unidos a rentabilidade dos bancos vai subir e setores cíclicos, bens iindustriais e commodities, ações de valor, vão andar mais que as de crescimento. Mas a Europa pode se destacar porque tem bolsas mais baseadas na velha economia, mais valor”, diz Attuch.

 

4) Menos “caiu, comprou” e mais critério na seleção de ações

A inflação deve tornar a tarefa de encontrar boas ações mais complexa. “Nem todas as empresas podem superar a inflação aumentando os preços — é por isso que este é um ambiente de seleção de ações”, resume Olivia Treharne, gestora de portfólio da BlackRock Fundamental Equity, no relatório sobre as perspectivas de 2022.

 

Na mesma linha, Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, diz que em 2022 a estratégia do “caiu, comprou” não vai mais funcionar. “Não é qualquer setor ou ação que você deve comprar porque os juros muito maiores e a economia fraca vão impactar vários setores, principalmente os mais dependentes de crédito e empresas mais alavancadas”, diz.

 

Ferreira tem uma visão mais otimista para a Bolsa do que os outros especialistas consultados porque acredita que o Ibovespa está bem descontado, então qualquer notícia positiva pode levar o índice a reagir. “A diferença é que estamos entrando em 2022 já com expectativas muito baixas e o ciclo de commodities é muito favorável ao Brasil”. No cenário-base, a XP prevê que o Ibovespa atinja 123 mil pontos em 2022.

 

Ele afirma que a XP recomenda três perfis de ações para 2022: empresas ligadas a commodities, entre elas a Vale; empresas com tese secular de crescimento, que crescem apesar de um cenário econômico mais desafiador, como Raia Drogasil; e empresas que caíram muito, mas têm bons fundamentos, como Banco do Brasil.

 

Entre os ativos domésticos, Paulo Bittencourt acredita que os setores que podem descolar da perspectiva mais negativa para o Ibovespa são: “Energia em primeiro lugar; em segundo, papel e celulose; e em terceiro petróleo e gás.” Todos ligados a commodities.

 

Uma forma de se expor a esses setores, diz o consultor, seria investir no ETF MATB11, que replica o Índice de Materiais Básicos da Bolsa.

 

Fonte: CNN Brasil

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